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Despertar a determinação nacional: o apelo para defender Timor-Leste do avanço do crime organizado

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Despertar a determinação nacional: o apelo para defender Timor-Leste do avanço do crime organizado

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OPINIAUN PÚBLIKU, (LIBEDADETL.com) — Num momento crucial para a jovem democracia timorense, o Ministro da Presidência do Conselho de Ministros, Ágio Pereira, amplificou através das redes sociais um manifesto ousado que apela a uma frente unida contra a infiltração do crime organizado transnacional no seio das instituições do país.

Este documento anónimo, redigido por ativistas preocupados, desencadeou um amplo debate sobre os perigos subtis mas profundos que ameaçam a soberania nacional, ecoando a resiliência que marcou o caminho para a independência em 2002.

No essencial, o manifesto adverte que Timor-Leste enfrenta o seu maior desafio interno desde a libertação da ocupação: não invasores externos, mas sim a corrupção insidiosa que corrói as estruturas do Estado a partir de dentro.

O texto destaca relatos de enormes fluxos de dinheiro, incluindo alegadamente uma entrega de 11 milhões de dólares por jatos privados em Díli, como parte de um esquema mais amplo de 45 milhões destinado a influenciar o poder através de ligações a redes criminosas no Sudeste Asiático e além.

Embora provas concretas destes montantes permaneçam escassas nos registos públicos, estes relatos alinham-se com padrões identificados em informações recentes, incluindo o alerta do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), emitido a 11 de setembro de 2025, que apontou Timor-Leste como alvo privilegiado para “investimento estrangeiro direto criminoso” que explora jurisdições vulneráveis.

Esta infiltração manifesta-se frequentemente através de zonas económicas especiais, como a Região Administrativa Especial de Oecusse-Ambeno (RAEOA), onde grupos organizados criam fachadas para fraude digital, branqueamento de capitais, e tráfico de seres humanos.

A decisão do Ministro Pereira em partilhar esta mensagem tem enorme peso. Figura central na cena política timorense desde o final da década de 1990, exerceu funções em vários governos, muitas vezes como próximo colaborador do Primeiro-Ministro Xanana Gusmão. O seu passado na resistência da diáspora contra a ocupação indonésia confere-lhe credibilidade única, tornando o seu apoio a este manifesto um apelo claro e inequívoco, e não mera retórica partidária.

O momento não é casual, surgindo logo após o alerta do UNODC sobre a expansão de redes criminosas asiáticas que deslocam operações para países do Pacífico, como Timor-Leste, devido a restrições mais apertadas noutras regiões.

As reações têm sido polarizadas. Em vez de responderem às alegações centrais, alguns visados lançaram ataques pessoais contra Pereira, uma tática que apenas reforça as suspeitas de desespero entre aqueles que poderão beneficiar destes fluxos ilícitos. Este padrão reflete fenómenos globais em que denunciantes sofrem represálias para desviar a atenção de problemas sistêmicos.

O apelo à unidade expresso no manifesto transcende linhas ideológicas: “Isto vai além da política, trata-se da sobrevivência nacional, do patriotismo acima do partidarismo e da clareza moral.”

Os primeiros sinais sugerem que está a ganhar força, com relatos de um encontro entre Pereira e o líder da FRETILIN, Mari Alkatiri, a indicarem uma possível aliança interpartidária para combater a “política do dinheiro sujo” associada a esquemas fraudulentos e redes de jogo. Tal colaboração é vital num contexto pós-colonial como o de Timor-Leste, onde divisões históricas poderiam, de outro modo, dificultar a ação coletiva.

Com base em quadros teóricos, este cenário exemplifica a teoria da captura do Estado (Hellman & Kaufmann, 2000), em que atores externos, neste caso, grupos criminosos transnacionais, influenciam ou “capturam” sistematicamente instituições estatais através de alavancagem econômica, corroendo a governação democrática.

Tal como articulado por Hellman e Kaufmann, este processo envolve não apenas subornos, mas também investimentos estratégicos que distorcem políticas públicas para benefício privado, frequentemente em Estados frágeis que saem de conflitos.

No caso timorense, o UNODC destaca que o investimento estrangeiro criminoso se disfarça de negócios legítimos, explorando lacunas regulatórias em zonas especiais para lavar receitas de atividades ilícitas.

Além disso, a teoria da dependência (Frank, 1966; Wallerstein, 1974) ajuda a compreender por que razões nações pequenas e com recursos limitados, como Timor-Leste, são tão vulneráveis.

Proveniente do pensamento de autores como André Gunder Frank, esta teoria sustenta que as economias periféricas no sistema global permanecem dependentes dos centros de poder, uma lógica que hoje se estende também a atores não estatais, como os sindicatos do crime.

No período pós-independência, a dependência timorense do investimento estrangeiro para o desenvolvimento abre brechas para exploração, perpetuando o subdesenvolvimento e a desigualdade em vez de promover a autossuficiência.

A retórica do manifesto, “Não estamos à venda; não seremos conquistados”, revive o espírito indomável da luta de Timor-Leste pela independência, apelando à mobilização da juventude e dos cidadãos, tal como em recentes protestos estudantis que conseguiram revogar leis controversas.

Esta energia de base alinha-se com a teoria dos movimentos sociais, em particular a mobilização de recursos (McCarthy & Zald, 1977), onde queixas partilhadas (por exemplo, a corrupção que ameaça a soberania) galvanizam a ação coletiva, como se verificou em resistências anticoloniais bem-sucedidas em várias partes do mundo.

Em conclusão, o manifesto surge como um alerta oportuno: “A escolha é nossa; a luta começa hoje.” Com líderes como Pereira a criar pontes e com alertas internacionais a confirmarem os riscos, Timor-Leste tem a oportunidade de reforçar as suas instituições.

Contudo, o verdadeiro teste residirá em saber se a vontade política se traduzirá em reformas concretas, como medidas mais eficazes contra o branqueamento de capitais e uma cooperação internacional reforçada através de organismos como a INTERPOL. Ignorar o problema poderá cristalizar a influência criminosa; mas uma unidade proativa poderá salvaguardar a liberdade arduamente conquistada da nação para as gerações futuras.

Por: Dionísio Babo Soares

Esta opinião é pessoal e não vincula as entidades com quem o escritor se associa.

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